RESISTIR É PRECISO...

Vivemos tempos de profundo retrocesso na Educação. O movimento neotecnicista nos impõe economistas e burocratas como "gestores" de uma educação bancária, excludente e perversa... resistir é preciso.

domingo, 24 de abril de 2011

A lição sabemos de cor só nos resta aprender...

Uma moça me pediu para responder uma entrevista sobre educação para um site do governo do estado. Confesso que meu primeiro pensamento foi: eu não tenho nada a dizer que vá interessar ao governo do estado, mas respondi assim mesmo, afinal o mundo é feito de ambivalências e contradições uma entrevista minha em um site do governo de estado será apenas mais uma... viva a democracia. Não sei se publicarão.
Desde que respondi fiquei pensando em algumas das questões... as críticas a qualidade da escola pública. Fiquei pensando no quanto estou cansada. Há 25 anos leio sobre educação, história da educação, crise na educação, propostas para a educação. Tanta coisa já foi respondida. As respostas já foram dadas há tanto tempo, vamos a elas, em lista, mas todas se relacionam em redes:
1) É preciso valorizar o profissional da educação. Professoras, coordenadoras, diretoras, agentes educativas etc. Estes profissionais precisam de salários que os permitam acessar os bens culturais, científicos e tecnológicos para que sua formação como cidadão seja permanente; retomar seu lugar como intelectuais, como referência para os jovens e crianças;
2) Salários descentes, plano de carreira que valorize a formação e a experiência destes profissionais, permitiria que formassemos equipes de trabalho por escolas, ao invés de professores que vem e vão, dividindo seu tempo entre as quatro, cinco escolas que atuam; equipes permitem amadurecer um projeto comum, dar contiuidade aos projetos políticos-pedagógicos; mas isso sozinho não muda a educação.
3) Infra-estrutura material : não adianta comprar computadores para escolas que a rede elétrica queima até cafeteira; banheiros que mandam litros de água potável para o esgoto; tetos que caem; bebedouros que não funcionam; comida estragada. O AMBIENTE EDUCA. O espaço nos diz para que tipo de ser humano aquela estrutura foi construída e o que/quem esse espaço pretende formar.
4) Infra-estrutura humana: hoje escolas com 1500 alunos são "adminstradas"(?) por equipes reduzidas, sem profissionais qualificados para as milhares de funções que precisam cumprir. Diretores são sindicos de prédios velhos, donos de restaurantes populares que precisam servir milhares de refeições por dia, admistram miséria, faltas, ausências...tapam buracos com areia e quando não conseguem evitar o escândalo do abandono são exonerados. Faltam profissionais de apoio: inspetores, orientadores educacionais, psicólogos, assistêntes sociais, fonoaudiólogos. Multiplicaram as atribuições da escola, mas não os profissionais especializados para formar uma equipe que atenda a estas multiplas funções. Hoje muitos dos problemas escolares relacionam-se diretamente com os problemas de saúde, de emprego, de violência. A escola não pode atuar sozinha contra toda as mazélas sociais e ecônomicas que a ausência de políticas públicas acarretam. Tem de fazer parte de uma ação conjunta.
5) Não existe projeto de escola séria que funcione quatro horas por dia. Escola pública tem - já diziam os pioneiros lá no início do século passado - de ser em horário integral, oferecendo uma educação integral as crianças e jovens. Projeto de escola sério tem que equipar TODAS as escolas com laboratórios de ciência e tecnologia, com bibliotecas, com oficinas do interesse da comunidade, com quadras e material esportivo de qualidade, com oficinais de teatro, música, arte etc. Não existe projeto de educação sério que não leve a sério os esportes e as muitas manifestações culturais da sociedade.
6) Não existe escola de qualidade com turmas superlotadas, com rotatividade de professores, com falta de tempo para o professor saber sequer os nomes dos alunos.
7) Escola precisa ter AUTONOMIA PEDAGÓGICA. Cabe a comunidade escolar definir seu projeto, seus currículos e sua avaliação. A escola é um DIREITO. Cabe ao governo garantir os recursos e condições. Cabe ao povo avaliar se o governo cumpre com suas obrigações e garante as condições necessárias para realizarmos um projeto democrático que atenda aos NOSSOS interesses, e não o contrário. O governo é que nos serve e não nós ao governo. O governo serve aos interesses de alguns. Autonomia nos permite a definirmos uma escola que sirva aos nossos interesses.
8) Os tais "gestores" da educação precisam entender de educação. Parar de querer importar modelos e soluções - questionáveis - de outros países - culturas, econômias - e prestar atenção na produção intelectual nacional. Democratizarem as discussões, conhecerem realmente as escolas e os sujeitos que vão "gerir". Avaliar em primeiro lugar suas ações. Ter suas ações direcionadas as necessidades reais das escolas e não ao marketing que elas possam produzir. Parar de querer "mostrar" trabalho, e trabalhar efetivamente. Parar de querer inventar um projeto para as escolas e buscar conhecer os projetos bem sucedidos que acontecem, apoiar as escolas na construção de seus projetos. Ou seja respeitar os preceitos da gestão democrática, e pararem de atropelar os sistemas com milhares de projetos extraterrestres.
E estes são apenas alguns dos muitos pontos que podemos ressaltar...quem quiser pode completar com outras "soluções" que já estão andando por aí a mais de séculos sem que nossos governantes queiram prestar atenção nelas. Afinal, é tão mais barato ficar produzindo estatísticas e notícias de jornal.

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