RESISTIR É PRECISO...

Vivemos tempos de profundo retrocesso na Educação. O movimento neotecnicista nos impõe economistas e burocratas como "gestores" de uma educação bancária, excludente e perversa... resistir é preciso.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

COMO SE PRODUZEM OS ANALFABETOS FUNCIONAIS?

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Ana, não sei se minha primeira leitora, mas a primeira a compartilhar comigo este espaço de diálogo para que possamos aprender e trocar com nossos pares. Sentia-me só, falando para os bits da net, e sua chegada me criou novo animo, por isso bem vinda...
Compartilho de seu sentimento de que o pobre do Vigostsky, assim como o bom e velho Paulo Freire devem estar pedindo para reencarnar para entrar nessa briga que dura séculos e parece longe de acabar. Infelizmente apesar de tudo que nos ensinaram, apesar de tudo que a história da educação já nos ensinou sobre tantos e tantos projetos fracassados, tanta produção de analfabetismo por estes projetos que sempre se transvestem de modernos para nos impor "mais do mesmo". Qual a diferença entre o "revolucionário" livro do SE LIGA, o SONHO DE TALITA ou a CARTILHA DO MOBRAL? Em que pressupostos e concepções de educação se fundamentam? Que concepções de produção de conhecimento e de ensinoaprendizagem possuem? De fundo? O mesmo. Os mesmos textos que não levam em consideração a imensa diversidade de realidades socio culturais, os mesmos exercícios que fragmentam a lingua tornando-a um estéril exercício escolar, que só possui sentido na escola, para a escola, as mesmas repetições, as mesmas imagens, palavras básicas, a mesma concepção : do simples para o complexo de Comênius..de Comênius pelo amor de Deus!!! Mais nada aprendemos em tantos séculos? Então Morim já não nos mostrou que o conhecimento caminha do complexo para o mais complexo. Que simples para o meu aluno é o que possui sentido enraizado na própria vida, e o que complexo é tudo o que se afasta disso?
O que nossos alunos precisam para aprender a ler e escrever? O mesmo que a humanidade precisou para desenvolver todos os conhecimentos: desejo, necessidade, vontade (como dizem os Titãs alias!!). O que constroí o desejo? O que produz a vontade? Ameaças? Prêmios? É uma forma de ver. Eu penso diferente. Eu acho que o ser humano produzido nestas condições é uma fraude! Só faz o que deve ser feito quando tem uma camera ligada e um cartaz dizendo: sorria você está sendo filmado. Quem é este sujeito formado nestes moldes? O que ele sabe? Como ele se conduz vida a fora... é esse projeto de educação, mais amplo que eu quero discutir. Quem é essa pessoa que formamos? Um "concurseiro"? Um especialista em marcar cartões respostas com um conhecimento com o qual não se compromete, não entende e não respeita?
Acredito que os analfabetos funcionais são produzidos pela escola, pela sociedade, pelos projetos e principalmente pela forma como estes projetos são implementados, sem um profundo conhecimento das realidades e contextos para os quais se destinam. Alias não acredito também em projetos únicos para "todos", porque como vejo os projetos devem ser locais e decididos pela escola, senão é melhor rasgar o PPP. Não acredito que tornar a leitura um remédio amargo vá ajudar a reverter este triste quadro. As crianças precisam ler. Para isso temos que ler para elas, temos que lhes mostrar o encanto que as palavras possuem, o poder que a palavra nos dá. Acredito nisso para o ensino real e significativo da leitura, da escrita, da matemática, da geografia e de todo resto. Chega de provas que nada provam! Que o digam os Juizes que vendem sentenças depois de tantas provas... Pressionar, comparar, julgar, punir, excluir, a escola faz isso há séculos e o mundo está cada vez mais um lugar mais egoísta, individualista, excludente e doente. Precisamos nos reinventar! E não será copiando os modelos passados - que deram certo para alguns e produziram 25 milhões de analfabetos neste país - que vamos sair desse buraco que este projeto social que insiste em desqualificar professoras, alunos e alunas, nos enfiou.

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